A tarefa de educar filhos.



Essa é uma tarefa bastante trabalhosa, mas também muito gratificante. É o que reconhecem aqueles que escolhem ter filhos, mesmo tendo que abdicar do seu narcisismo para cuidar de um outro ser. No caso, indefeso, que está completamente numa situação de desamparo, que depende completamente dele. Ainda assim, essa é uma experiência maravilhosa. Mas, também é verdade que é uma experiência que dá muito trabalho, gera muitas perguntas, inquietações, dúvidas, frustrações e até medos.

Medo de que não esteja fazendo a coisa certa, de que não esteja falando a palavra correta, de que não esteja dando amor suficiente (suficiente para quê?), de que não esteja realizando os desejos, colocando os limites necessários para que aquele pequeno ser falante possa se tornar um adulto sadio, etc.

E para aqueles que tiverem seus filhos e não se perguntarem tudo isso, que acreditam que estão completamente certos do que estão fazendo, podemos dizer que estão muito equivocados. Estão, talvez, suprindo as necessidades básicas (comida, moradia, estudos) e outras que não são tão básicas assim - que pertencem ao âmbito do desejo: desejo de ter objetos tecnológicos (a relação é extensa...), de ter vários brinquedos, viagens, etc.

Muitos pais ficam perdidos em meio a tanta informação, que existe atualmente: manuais de educação, propagandas de TV, conselhos de parentes, de seus próprios pais e principalmente em relação ao que viveram em sua própria infância. Fazem dessa forma (em relação ao último), ou porque acreditam terem recebido o melhor e querem repetir o mesmo com seus filhos, ou porque creem terem recebido o pior e almejam fazer "todo o contrário".

Se estiverem orientados por um, ou por outro imperativo, a verdade é que ainda estarão sob o “domínio” do que lhes aconteceram em sua própria infância. Um exemplo bem claro é quando escutamos os pais se dirigindo aos filhos e chamando por seus próprios pais: "Filho, chame a mamãe!"; "Eu e o papai queremos que você faça desse jeito!"; "Papai, leve o fulaninho para a cama dele!". São algumas frases proferidas, às vezes durante toda a infância dos filhos.

Percebem que em todas essas orações existem um apelo ao papai e a mamãe de cada um dos sujeitos em questão? E quando eles se referem dessa forma, não estão ocupando a função deles: de pai e mãe desse filho.

E quando não ocupa sua função, a consequência incide para os dois, tanto para os pais quanto - e principalmente - para o filho que fica sem lugar. É filho de quem? A quem seus pais estão se referindo?

Essa forma de falar não é consequências para os filhos. E isso o constatamos quando recebemos pais que não entendem o que está acontecendo com seus filhos:

Porque não os obedecem, porque não os respeitam, mesmo eles sendo "tão amigos", tão bonzinhos, realizando o que eles pedem?

O problema está justamente nesse ponto! Quem disse que eles têm que realizar todos os desejos dos filhos? Quem disse que seus filhos querem que eles sejam seus amigos?

Pois quando estão na posição de amigo dos filhos, não existe hierarquia. E quando não existe hierarquia, não existe autoridade, estão todos na mesma posição. Pois, os amigos são aqueles que escolhidos e estão na mesma linearidade, enquanto as funções de pai e mãe são lugares que estrutura um outro lugar: o de filho.

Portanto, pais e mães ocupem seus lugares e tenham as boas consequências desse ato!


Andreneide Dantas    
29/05/12
#tarefa #educar #filhos #psicanálise #psicoterapia 

Comentários

  1. " Filhos precisam de pais que executem o seu papel principal de pai ou mãe, que é cuidar, educar, disciplinar, proteger, ensinar (seja brigando ou castigando). Pais não devem se preocupar em ser amigos, pais devem se preocupar com outras coisas do filho, porque amizade a gente faz fácil, ter amigos pra brincar, pra xingar, pra conversar, pra desabafar é fácil, difícil é respeitar e obedecer os pais, difícil é por em prática aquilo que eles nos ensinam, e mais dificil ainda é valorizarmos aquilo que eles nos dão com tanto esforço.

    Pais precisam de limites também, são nossos educadores, são nossos exemplo de vida, se de repente eles sentam com a gente e começam a nos entender, a concordar com tudo, no que vamos nos espelhar ? ninguém se orgulha de alguém como a gente, não acho que haja narcisismo pra isso. Sempre nos orgulhamos das pessoas que são como queremos ser, não das que são como a gente é.

    Pais, seus amigos são aqueles pra quem você nos elogiam, ou dizem que somos terríveis, e os nossos amigos são aqueles que dizemos que vocês são os melhores do mundo, e também que são loucos, chatos, insuportáveis ou os piores do mundo.

    Então, por favor não queiram ser nossos amigos, podemos ser bons colegas, mais podemos ser melhores ainda, podemos ser pais e filhos, amizades são cercadas de amores e ódios, e já que vocês são nossos pais, que sejamos apenas filhos e pais numa troca mútua de amor, cuidado e carinho. "

    KARINA B.

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