Ritalina em vez da palavra?

(Imagem retirada da internet - meramente ilustrativa)

Porque seu uso cresceu demasiado?
Não podemos deixar de nos surpreendermos, com o dado que foi veiculado recentemente na mídia, sobre o uso da substância Metilfenidato, cujo nome comercial é Ritalina. 
As informações divulgadas revelaram um aumento de 775% no uso desse remédio. Os dados são resultados da importante pesquisa realizada pela psicóloga Denise Barros, do Instituto de Medicina Social da UERJ, que foi veiculado nos principais jornais e revistas do país. (Veja - agosto 2014, jornal Estadão...)

A maioria talvez saiba, que o remédio descrito acima, é indicado para pessoas, principalmente crianças e adolescentes, que receberam o diagnóstico de Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
E como podemos justificar esses dados alarmantes? O que aconteceu com as crianças brasileiras nos últimos 10 anos? Terão as famílias tido mais acesso ao diagnóstico - como defendem alguns -  ou o medicamento tem tido seu uso indiscriminado?

As crianças que são diagnosticadas com o Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ( TDAH), têm em comum o fato de se distraírem com facilidade, serem inquietos e demonstrarem pouco interesse nas atividades propostas. Por conta disso, não se detém nas tarefas, ficam pensativos, fantasiando, “viajando em pensamentos” como é conhecido popularmente. Consequentemente têm um resultado escolar aquém do esperado e demandam muita atenção por parte dos que as rodeiam, uma vez que não conseguem ‘parar’. Por isso o nome:  “hiperativos”.

Quando fazemos uma leitura da demanda social vigente, vemos que essas crianças são exigidas a serem cada vez mais adaptadas ao meio. Que fale mais de uma língua, façam várias atividades, tenha uma agenda de ‘pequenos executivos’. Para dar conta disso, recebem várias tarefas e também vários estímulos como: TVs, vídeo games, tablets, celulares, a lista como todos sabem, pode ser imensa!

Então, podemos perguntar: como a criança vai “parar”, como vai se concentrar se seu entorno desvia sua atenção constantemente?
Quantos já se perguntaram sobre quais são as causas da desatenção da criança, porque elas não conseguem conter os movimentos do seu corpo?
A Psicanálise nos ensina, que quando a criança não consegue conter suas pulsões, o demonstram no seu corpo, não conseguem parar de movimentá-lo. E não conseguem conter as pulsões, porque algo está faltando.

Falta uma palavra que possa “conter a avalanche das pulsões”, e por conta disso, a criança fica desorganizada. A relação delas com o espaço e o tempo fica “deficitária”, não conseguem esperar. Mostram com o gozo do seu corpo, um mal-estar e sofrimento.

Quando a palavra não consegue conter uma pulsão, o corpo responde com sua inquietação.

Em vez de perguntarem o que lhes acontecem, as "amordaçam" quimicamente e isso impede que a criança fale sobre sua angústia e seu sofrimento.
Diante do incomodo e preocupação do que acontece com os filhos, os pais no intento de resolverem a situação, procuram um diagnóstico e muitas vezes, esse, é equivocado. A medicação prescrita para as crianças diagnosticadas serve para reduzir a atividade motora, a impulsividade, consequentemente a atenção da criança melhora, a memória idem. Consequentemente o resultado na escola melhora também.

Mas, como fica o processo de simbolização, como ela entenderá o que lhe acontece? Se ela não consegue falar do que sente, como será seu futuro? E os efeitos colaterais dessas drogas?
E quando não perguntam e dão a possibilidade para que a criança se expresse falando, elas são tratadas igualmente, tomando uma medicação que as incluem em um signo “para todos”!

Remédio igual para crianças diferentes! E elas serão sempre diferentes, portanto seu mal estar será sempre singular a cada uma delas!
As pesquisas cientificas ainda não encontraram causas neuronais para justificarem o diagnóstico de TDAH, (ainda continuam buscando...) portanto, logo podemos dizer, que a causa da inquietação motora e desatenção de cada criança, diz respeito a vida de cada uma, ao seu meio familiar e sua história. Salvo, quando realmente ela apresenta alguma alteração orgânica...

Vale aqui algumas perguntas: 

Como estão sendo estabelecidas as disciplinas em sua casa?
Em qual discurso estão inseridas?
O que a criança entendeu do que viu e ouviu?

Se investirmos um tempo para perguntar em vez de medicar, teremos a chance de obter as respostas. Mas fazer dessa forma, demanda mais trabalho e mais tempo!

Andreneide Dantas 
30/09/14

#desatenção #TDHA #inquieta #disciplinas #ritalina #concerta #hiperativas 


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