Brincar é estruturante
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(Imagem retirada da internet para fins de ilustração) |
As ocupações preferidas das crianças são as brincadeiras e os jogos, já nos dizia Freud em 1907.
É através do brincar ou das
brincadeiras que elas exploram o mundo e também podem se “apropriar” da
realidade, e dessa forma transformá-la.
Enquanto brinca, a criança se diverte,
aprende, se desenvolve orgânica e psiquicamente. Primeiro brinca com sua mãe (quando
esta brinca com ela), e nesse momento existe “um playground” entre os dois, como
bem situou Winnicott, depois com seu corpo e posteriormente com seus
colegas de jogos.
É também através dos jogos e
brincadeiras que as crianças mostram seu desejo de crescer. Não é por acaso que brincam de serem adultos (fingem serem os pais, os professores, etc.).
A criança é um sujeito em constituição
e se desenvolve através da mediação com o Outro, e o brincar é um meio. Pois, através dele, ela imagina, cria de acordo com seu mundo interno, de acordo
com suas fantasias, seus medos e desejos.
Ela se comunica e nos transmite uma mensagem, simboliza o mundo real e isso é fundamental para o desenvolvimento de sua subjetividade: ela pode viver ativamente aquilo que outrora viveu passivamente.
Por exemplo: quando elas levam uma bronca ou quando tem que tomar uma injeção, brincam, encenam serem elas as que estão na posição ativa e dão bronca ou tratam e cuidam de seus bonecos como se fossem os adultos.
Nesse momento, elas passam de uma
posição de assujeitamento para uma posição de sujeito da ação. Aqui elas
experimentam serem as detentoras da situação em vez de estarem assujeitadas ao Outro.
Na análise, vemos claramente isso
acontecer, quando a criança nos mostra, nos ‘diz’ com o jogo ou a brincadeira, aquilo que está angustiando-a. Fala de seus medos, seus fantasmas e assim, pode simbolizar algo que viveu, ou está vivendo, e está sendo difícil.
Através do brincar ela se distancia de um real angustiante ou até aterrorizante, e quando faz isso, se alivia. Quando encena jogo com monstros, guerras, luta do bem contra o mal, ela representa suas pulsões destrutivas em vez de bater, brigar, machucar o outro, ou se machucar.
É a forma com a qual ela pode ‘dominar’ uma realidade ruim.
O brincar é tão importante que o
sujeito não o abandona, apenas o substitui. Quando cresce, brinca com suas
fantasias, lembrando mais uma vez os ensinamentos freudianos.
E quando o brincar não é possível
por conta dos acúmulos de tarefas ou horas paradas diante da TV, ou de jogos eletrônicos,
temos um problema. Pois, a criança perderá a oportunidade de elaborar um real
angustiante ou ameaçador, e ficará muito tempo na posição passiva diante do
Outro. Quer sejam: adultos, TV, qualquer outro que a impossibilite de exercitar, criar e transformar algo.
Perguntaram para uma criança
porque era tão importante para ela brincar. 'Porque
quando a gente não pode fazer algo, brincamos que podemos'.
Quando elas não podem
colocar em palavras ou nas brincadeiras e jogos, aquilo que querem ou sentem, mostram
esse mal-estar no corpo através das doenças, inibições e sintomas.
Andreneide Dantas
26/11/15
26/11/15
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Excelente texto! Linguagem clara, objetiva, acessível... E o tema é da maior relevância para nossa sociedade tão "ocupada".
ResponderExcluirBrincar é realmente estruturante, para crianças e adultos também!
Parabéns!