Pais que não se autorizam ...


Imagem retirada da internet para fins de ilustração.


Quando alguém é promovido, faz aniversário, passa da fase da infância para a adolescência, da adolescência para a adulta, não significa que vá assumir esse novo cargo, nova idade, nova fase de vida, automaticamente, pois se trata de sujeitos e não de máquinas.

Em relação à maternidade e paternidade também acontece algo parecido, pois não é garantido que quando um homem ou uma mulher tenham filhos (gerando, procriando e/ou adotando) que se encarreguem da função de pais.
Em qualquer uma das situações acima, é fundamental que se autorizem a assumir essa nova função ou fase, se não, não será possível. Pois, isso não é nada dado pelo outro ou tenha relação somente com a passagem do tempo, ou amadurecimento biológico.

Na clínica, recebemos pais angustiados em relação ao sofrimento e indisciplina dos filhos e nas entrevistas — em alguns casos — o que nos chama a atenção é quando dizem: "Eu falei para o meu filho:  a mamãe está mandando você estudar". E a queixa é que esse filho não fez o que ela mandou”.
Perceberam que nesse dito essa mãe não está em função? Pois, não se autoriza, pois, refere-se à sua própria mãe. Ou quando dizem "filho vai com o papai", nesse caso ela fica como se fosse filha do marido e irmã de seu filho.  

Isso que parece “carinhoso”, custa caro para essa família, pois dessa forma, todos ficam fora de seus lugares e isso traz consequências graves.
Alguns pais nos dizem que "é somente uma forma de falar", mas o que eles não sabem, é que nessa forma de falar, esse equívoco discursivo afeta o comportamento de cada um deles.

Escutei também uma avó chamando sua neta de ‘vovozinha’, nesse caso a intenção era de ser “afetuosa”. E onde está o carinho quando ela não chama a neta de "minha neta"; “minha netinha”? Em outro caso, um pai se dirigindo a sua filha disse “papai vem cá”.
Sem exceção, em todos esses casos, tanto essa mãe, avó, e pai, estavam se remetendo ao lugar deles, enquanto filhos e neta. Algo do infantil deles retornava quando se dirigiam a família que geraram. Mas, eles não sabiam..., pois isso é inconsciente.

Sigmund Freud, psicanalista, criador da psicanálise, nos disse que as pessoas primeiro cedem nas palavras e depois nos atos. E ceder nas palavras é prejudicial, pois falar não é sem consequências, visto que a fala afeta diretamente o corpo e a vida, a ponto de produzir sintomas e doenças.

Quando um pai diz "Filho, eu quero que você vá estudar!", é muito diferente de dizer "papai quer que você vá estudar". Em uma situação ele se autoriza enquanto pai, e está em uma posição de hierarquia, na outra, está fora de seu lugar e a chance de ser respeitado é nula.
Quando não estão situados em sua função de pai e/ou mãe, é porque não conseguem, pois, existem empecilhos, questões inconscientes em relação ao seu lugar infantil junto aos seus próprios pais  que precisam ser identificadas e elaboradas.

Andreneide Dantas 

22/12/15

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