Adoção
Todo filho precisa ser adotado
Para que uma criança cresça e se desenvolva de forma sadia, necessita de um Outro que se ocupe em cuidar dela. Pois, ela é sempre prematura ao nascer se comparada a outras espécies que conseguem se virar sozinhas quando vêm ao mundo. O filhote humano é um ser indefeso que não tem recursos suficientes para satisfazer suas necessidades vitais e para se constituir como um ser falante.
Por conta disso, será por meio da relação com esse Outro — que ocupará a função de mãe ou de pai — por meio do carinho, cuidados e principalmente palavras de amor, que ele poderá se desenvolver subjetivamente.
Pois, o “ser humano é psiquicamente um ser de filiação linguística, portanto, de adoção”.1
Para que uma criança nasça é preciso que tenha sido desejada (mesmo que a mulher que a gerou não o saiba) e em relação a um filho adotado ‘os pais não podem negar que ele é um filho procurado e longamente desejado por eles antes da sociedade os ter contentado”. 2
Uma vez desejada e efetivada a adoção, uma dúvida frequente dos pais é quanto a importância de que o filho conheça sua história, sobre as condições de seu nascimento. Podemos afirmar que é fundamental que ele saiba, pois, todo sujeito tem o direito de saber sobre sua origem. A criança apresenta cedo essa curiosidade: como nasceu, de onde veio e como foi concebida. Para dar conta dessas interrogações faz confabulações para lidar com esse “não saber”.
Diferente do que muitos pais acreditam, elas têm condições de suportar a verdade, e eles precisam ter condições de dizê-la. É melhor saber a verdade e encontrar, com a ajuda dos pais, condições para elaborar o sabido, do que viver sob o peso de um segredo que pode atrapalhar sua existência.
O mais importante é o amor desses pais — independente se o filho foi gerado ou não por eles — para haver a constituição deste, e depois a ‘resolução do édipo do filho’, que vai consistir em ele assumir a sua identidade, renunciando à identificação com o objeto de prazer e de desejo de cada um dos pais tutelado.3
Um homem e uma mulher quando se tornam pais, ressignificam o lugar de filhos que tiveram junto aos seus pais. E os sentimentos deles, enquanto filhos são vividos da mesma maneira, independente se o filho foi ou não gerado por eles.
É a linguagem que possibilita a inserção de uma criança no desejo dos pais. Quando uma mãe ou um pai diz: meu filho, inscreve o lugar do filho e o deles, enquanto mãe e pai.
A mãe com seus cuidados erogeniza o corpo do filho por meio da alimentação, da troca de fraldas, do banho, e principalmente do olhar e da fala. Ela transforma o “corpo” orgânico, que ele traz ao nascer, em corpo simbólico, banhado pela linguagem.
Com a palavra desse Outro (mãe ou pai) o filho vai se humanizar. Quando ela interpreta o choro do filho (signo) e o devolve como um significante: dizendo “é fome”, “é frio”, “dor” ou “manha”. “O que marca o ritmo do desenvolvimento é o desejo do Outro que opera sobre a criança através de seu discurso. O maturativo se mantém simplesmente como limite, mas não como causa”. 5
Será com o investimento desse Outro que a criança vai poder constituir-se e reconhecer-se como sujeito.
É também por meio do discurso que eles poderão transmitir o discurso familiar, os dados importantes da cadeia transgeracional: qual é a história dessa família, quem são os bisavós e avós paternos e maternos, os costumes, as histórias, para que se inscrevam simbolicamente e psiquicamente as marcas no inconsciente desse filho. Dessa forma, ele se reconhecerá fazendo parte dessa família que é a sua.
O dito acima precisa acontecer para todo sujeito humano, pois todo filho precisa ser adotado no desejo e no discurso desses pais, quer tenha ou não sido gerados por eles, pois se isso não acontecer ficarão sem lugar de filho na composição familiar e serão somente as crianças, os meninos, e não os filhos, palavra esta que funda um lugar. Quando não existe quem se encarregue da função de mãe e/ou pai, não haverá lugar para um filho.
Dolto, Françoise – Psicanálise de Crianças
Dolto, Françoise - idem
Dolto, Françoise - idem
Jerusalinsky, Alfredo – Psicanálise e Desenvolvimento Infantil
Freud, Sigmund - Teorias Sexuais Infantis
2016.
Andreneide Dantas
Psicanalista e Psicóloga
#escutaanalitica1
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